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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O CASARÃO DO ENGENHO NOVO







Desse casarão, construído por volta da década de 1850, na  localidade de  Engenho Novo, município de São João do Rio do Peixe, por iniciativa do major João Gonçalves Dantas (filho do capitão-mor Domingos João Dantas), hoje restam apenas  os vestígios de suas ruínas.
O interior do velho casarão era confortável, pois possuía um andar superior, com piso em madeira de lei, onde ficavam os reservados quartos de dormir e o cofre. O acesso a esse pavimento era feito por meio de uma escada larga, artisticamente trabalhada em madeira de cedro. Ali, jogados no chão,  na frente da casa, no local onde havia uma calçada alta, ainda podem ser observados os restos de um dos três carros de boi. (Ver terceira foto)
         Às margens do riacho que banha a localidade, havia umas oiticicas  frondosas sob as quais se arranchavam ciganos e retirantes; por isso, a localidade era conhecida por Rancho (até 1853 ela ainda conservava esse nome), e esse curso d’água, de riacho do Rancho. Posteriormente, o seu proprietário, o major João Gonçalves Dantas (falecido em 1884, cujo inventário processou-se a 20/08 do mesmo ano),  casado com Luíza Gonçalves Dantas, comprou um engenho novo, com moendas de ferro. A partir daí, o lugar passou a chamar-se Engenho Novo,  e o curso d’água, de riacho do Engenho Novo.
Até 1985, ano em que foi completamente abandonado, esse prédio (construído por mãos de escravos), encontrava-se em bom estado de conservação, e ainda era habitado por alguns descendentes do capitão-mor Domingos João Dantas e Mariana Gonçalves Dantas, tronco familiar do qual descende quase toda a família Dantas Gonçalves do município são-joanense. Mariana Gonçalves Dantas era  filha do tenente Manuel Gonçalves Dantas e Josefa de Mello e Albuquerque. Dessa união conjugal, nasceram cinco filhos:  quatro homens e uma mulher, cujos nomes constam do inventário.
O capitão Domingos João, como era mais conhecido, faleceu a 30 de abril de 1853, e o inventário foi realizado no mesmo ano, no período de 25/06 a 09/07, pelo Padre Joaquim Theofilo da Guerra (juiz árbitro), sob o juramento dos Santos Evangelhos, sendo estes os herdeiros: Mariana Gonçalves Dantas, viúva, meeira, e os filhos seguintes  Antônia Maria Madalena, já falecida, sendo representada pelos filhos: Domingos João Dantas, casado, 38 anos de idade, e José Soares Távola, casado, 37 anos de idade; Manuel Gonçalves Dantas, 53 anos de idade,  padre; José Gonçalves Dantas, 51 anos de idade, padre; João Gonçalves Dantas, 47 anos de idade, major, e André Gonçalves Dantas, 38 anos de idade, sem patente.   Entre os bens arrolados pelo escrivão nomeado, José Gonçalves Dantas, encontravam-se 1.670 cabeças de gado vacum e 47, cavalar. Daquele total, havia 1.100 vacas (mil e cem), entre solteiras e paridas; 290 novilhos; 200 garrotes, 50 novilhas; e 30 bois (fora uma porção de bois que não foram catalogados); dois cordões de ouro: um medindo três varas  e uma quarta, pesando quatorze oitavas e o outro, duas varas e meia quarta, pesando oito oitavas (vara: antiga medida de comprimento equivalente a um metro e dez centímetros);  um colar de prata, medindo uma vara e meia quarta; um crucifixo de ouro, pesando dezesseis oitavas; um par de argolas, lisas, de ouro, pesando uma oitava e meia;  uma Sesmaria, uma Data de Selvas, três sítios de criar; tinta e cinco partes de terra; dezessete casas.
Entre essas habitações, havia uma que chamava a atenção, em particular, por seus aspectos: o solar dos Dantas Gonçalves. Trata-se, pois, de um prédio grande, coberto de telha, com dezessete portas e quatro janelas e mobília, localizado no então povoado de São João (hoje São João do Rio do Peixe). Além disso, havia, no local, uma senzala e 4 currais de pau-a-pique, pegado aos quais havia um cercado que ficava por trás da casa. Tudo indica que esse casarão ainda existe, no centro da cidade, e hoje pertence aos herdeiros de José Alexandre Filho, mais conhecido por Senhor Alexandre (foto acima).
 Além do mais, entraram, como objetos de  partilha, por ocasião do espólio, 17 escravos, a saber: Gonçalo, negro velho, crioulo, 52 anos de idade, avaliado em 250$000 (duzentos e cinquenta mil réis); Pedro, negro, crioulo, 45 anos de idade, quebrado de uma virilha, avaliado em 200$000  (duzentos mil réis); Joaquim, negro, crioulo, 40 anos de idade, avaliado em 300$000 (trezentos mil réis); Francisco, negro, angolano, 40 anos de idade, avaliado em 300$000 (trezentos mil réis); Vicente, cabra, ferreiro, vinte e oito anos de idade, avaliado em 700$000 (setecentos mil réis); Sirino, mulato, 26 anos de idade, avaliado em 500$000 (quinhentos mil réis); Antonio, cabra, 22 anos de idade, avaliado em 400$000 (quatrocentos mil réis); José, cabra, 20 anos de idade, avaliado em 500$000 (quinhentos mil réis); Martinho,  cabra, 25 anos de idade, avaliado em 400$000 (quatrocentos mil réis); Pedro, angolano, negro, 35 anos de idade, avaliado em 250$000 (duzentos e cinquenta mil réis); Serafim,  cabrinha, 12 anos de idade, avaliado em 300$000 (trezentos mil réis); Es...não, moleque, crioulo, 4 anos de idade, avaliado em 150$000 (cento e cinquenta mil réis); Anna, negra, crioula,  53 anos de idade, avaliada em  120$000 (cento e vinte mil réis); Dorothea, negra, crioula, 35 anos de idade, avaliada em 350$000 (trezentos e cinquenta mil réis);  Maria, cabocla, 35 anos de idade, avaliada em 300$000 (trezentos mil réis);  Victória, mulata, 20 anos de idade, doente, avaliada em 200$000 (duzentos mil réis); Maria Thereza, negra, crioula, 19 anos de idade, doente, avaliada em 200$000 (duzentos mil réis); Francisca, cabra, 18 anos de idade, avaliada em 400$000 (quatrocentos mil réis); Luzia, negrinha, 8 anos de idade, avaliada em 300$000 (trezentos mil réis).
 Segundo consta, em 1816, o capitão-mor Domingos João Dantas residia em Piancó-PB, quando aparece como requerente de terras na região que compreende o atual município de Diamante-PB, que, na época, pertencia àquele município. Feita a concessão, ele recebeu uma parte de terra que tinha os seguintes limites: ao norte, a fazenda Jenipapo; ao sul, os Sítios Antas e Bruscas; ao leste, a fazenda São Boa Ventura; e, ao oeste, o Sítio Milho D'angola e Santana.
Entretanto, no ano de 1846, atendendo a um  pedido de José Veríssimo,  seu vaqueiro, o Capitão Domingos João Dantas doou um terreno para a construção da primeira capela do lugar. Logo após a doação,  foi erguida uma pequena latada, coberta de palha de carnaúba, sob a qual havia um oratório gurdando a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Até então, o local era conhecido por Paulo Mendes, em homenagem ao seu primeiro professor. Posteriormente, passou a chamar-se São Paulo e, finalmente, Diamante.
Por volta da década de 1850, a latada foi transformada em capela, e recebeu a imagem de Nossa Senhora da Conceição, talhada em madeira, doada pelo capitão-mor Domingos João Dantas. Assim, em torno da capela, nasceu e cresceu a povoação que resultou na atual cidade de Diamante. (Ver em Wikipédia, a enciclopédia livre).
Conforme declarações de Mariana Dantas Gonçalves, contidas no inventário dos bens deixados por seu esposo, o capitão-mor Domingos João Dantas, realizado no ano de 1853, em São João do Rio do Peixe-PB, ele era proprietário de 21  (vinte e uma) partes  de terra, no município de Piancó-PB, sendo assim distribuídas: 12 (doze) no Sítio Paulo Mendes, 4 (quatro) na Fazenda Bruscas, 1 (uma) no Bebedor Cabueira, 1 (uma) em Manguenza, 1 (uma) em Furada, 1 (uma) Sesmaria, e 1 (uma) Data de Selvas em Diamante. Além disso, possuía 2 (dois) currais de pau-a-pique, em Paulo Mendes, 1 (uma) casa na Fazenda Vaca Morta e outra, na Fazenda Bruscas.
Os bens descritos no inventário do capitão-mor Domingos João Dantas, espalhados por várias localidades dos estados da Paraíba e Ceará, chegaram ao montante de 52:069$500 (cinquenta e dois contos, sessenta e nove mil e quinhentos réis), sendo dividido esse total em duas partes iguais, ficando uma para a viúva e a outra, para os herdeiros.




Major João Gonçalves Dantas, esposa e filhas, gêmeas:



4 comentários:

  1. Que surpresa agradavel esse blog! Minha familia é de SJRP, mas nunca tive a oportunidade de conhecer a cidade, e pouco sei sobre meus ancestrais e a vida que levavam. Adorei viajar no tempo com o casarão do Engenho Novo.
    Fico ansiosamente aguardando mais relatos de outras fazendas ou quem sabe a vida de pessoas ilustres ou nao dos seculos passados!

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  2. linda historia dos meus ancestraia lembro uando menina meu avo falava de seus ancestrais o sr major João gonçalvez dantas.......lembro ainda ue ele guardava consigo uma simplis lembrança era uma espora em forma de uma cobra j kebrada na kal pertencia ao seu antepassdo...........bjs amo ver e ler fotos de minha cidade...............

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  3. Meu pai que infelizmente já é falecido nasceu em engenho novo.Mais não conheço os seus familiares.
    Meus avós são Rita Flor dos santos e José Oscar Cassiano.

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