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domingo, 3 de março de 2013

O AÇUDE DE PILÕES – uma conquista do Padre Sá





                                      O AÇUDE DE PILÕES – uma conquista do Padre Sá
                                                                                                            
                                                         Antonio Nogueira da Nóbrega

       
         Construído entre 1921-1933, o açude de Pilões foi uma luta indormida do Padre Joaquim Cirilo de Sá junto a Dr. Epitácio Pessoa, desde o tempo em que este era senador até a sua chegada à presidência da República, cujo mandato transcorreu de 1919 a 1922.
       Com capacidade para 13 milhões de metros cúbicos de água, Pilões é um dos grandes açudes da região, e abrange áreas dos municípios de São João do Rio do Peixe e Triunfo. Quando está cheio, torna-se um importante ponto turístico, que, em fins de semana, recebe a visita de centenas de pessoas não só desses dois municípios, mas também das comunas circunvizinhas que buscam as suas águas para o tradicional banho de açude.
         No ano de 1915, quando uma seca inclemente castigava o Nordeste, o Padre Joaquim Cirilo de Sá, em carta aberta ao então senador Epitácio Pessoa, publicada no jornal A UNIÃO, edição de quatro de setembro desse ano, denunciava o doloroso drama vivido pela população sertaneja e o estado de abandono a que fora relegada:
“Exmo. Sr. Senador Epitácio Pessoa
Meus cordiais cumprimentos
        É pela segunda vez que escrevo a V. Exª. apresentando o relatório do estado aflitivo de nossos patrícios sertanejos, acossados por uma seca tremenda, horrível, nunca vista entre nós.
Tudo tende a desaparecer por completo devido aos efeitos ardentíssimos de um sol abrasador.
Não venho Exmº Sr. fantasiar uma situação lastimável pela qual passam atualmente os nossos dedicados patrícios, quero apenas historiar sinceramente em síntese o desmoronamento de uma parte integrante de nossa cara Paraíba, que se estorce nos últimos paroxismos de uma dor cruciante.
           É lastimável vê-la inteiramente desprestigiada, abandonada e ao mesmo tempo perseguida e humilhada pelo terrível flagelo climatérico – a sêca, sem uma centelha dos favores que nos garante a Constituição do País, amenize a pavorosa situação que desventurosamente atravessamos.
            No sertão da Paraíba, não se pode mais viver, a não se com grande sacrifício porque se tornou precaríssima a subsistência.
          A maior parte dos indigentes nem mais encontra quem lhe dê o escasso alimento que os abrigue da morte pela fome, pois são minguados os cereais que vêm de longe por preços exorbitantes (...)”
           Noutro trecho de sua carta, o Padre Sá, como era conhecido, assim relatava a fuga desesperada do sertanejo castigado pela seca:
        “Desde o começo do ano, quando se desvaneceu a fagueira esperança do inverno, levas de famintos aterrorizados pela fome, cruzam as estradas lutando pela vida sem rumo, sem alento, num vai e vem descompassado, em demanda de lugares auspiciosos que lhes garantissem a existência malograda. Vultos esquecidos, maltrapilhos e andrajosos vagam em uma debandada forçada; uns caindo vitimados pela fome, em sítios inóspitos para nunca mais se reerguerem; outros, comprimidos os corações e os olhos rasos d’água, entregando, lastimando adura sorte, os queridos filhinhos a pessoas compassivas e caridosas para os ampararem contra o medonho influxo do algoz sem entranhas que faz convulsionar uma população indefesa. Alguns finalmente existem ainda mais sacrificados, sem recursos, já não podendo viajar por lhe faltarem os meios precisos para o difícil transporte, estando forçosamente sentenciados a sucumbir de fome em suas humildes vivendas.”
            Mais adiante, em outro trecho da carta, ele assim justificava a construção do açude de Pilões como uma solução do problema:
            “Se tivéssemos o açude de Pilões na zona sertaneja, estaríamos amparados contra os horrores manifestados do fenômeno devassador, pelo menos teríamos ricas vazantes de cereais, frutas, peixes e água em abundância e muitos outros meios preventivos para tempos anormais como o que estamos miseravelmente suportando”.
Por fim, despede-se aguardando uma resposta positiva:
“Em vista do exposto Exmº. Sr. daqui na Capital, aguardo o momento venturoso de uma resposta favorável em benefício dos nossos sertanejos flagelados para com a máxima urgência transmitir a alvissareira notícia da solução àqueles que lutam pela vida perseguidos pela fome.
E na qualidade de humilde sacerdote sertanejo subscrevo-me de V. Exª. Amigo Atencioso Crº Obº Pe. Joaquim Cirilo de Sá.”
        Atendendo aos repetidos apelos do Padre Sá, Epitácio Pessoa autorizou a construção da obra, cujos trabalhos começaram a 01-02-1921, mas foram suspensos logo no ano seguinte. De acordo com o projeto original, o açude ficaria com o sangradouro na cota de 268 metros; a parede, com 360 metros de comprimento e 27 de altura, dando ao reservatório uma capacidade de 350 milhões de metros cúbicos de água armazenada, inundando uma área de 952km2, o que faria submergir, por completo, as fontes termais de Brejo das Freiras, inutilizando-as para sempre. Por isso, Sólon Lucena, então governo do Estado, pediu ao presidente Epitácio Pessoa que mandasse realizar um exame detalhado das águas, para verificar se elas continham elementos que justificassem o salvamento das fontes, sendo designado para tais estudos o professor Lafayete Pereira, que, por sua vez, convidou Dr. Sá Benevides para auxiliá-lo nessa missão, o qual muito se esforçou para que as termas fossem preservadas.
         Feitos os exames das águas, constatou-se que elas continham algo que justificasse o salvamento das fontes. Assim, reduziu-se a capacidade de água armazenada do açude - que seria de 350 milhões de metros cúbicos - para l3 milhões; sendo, portanto, salvas as termas da bacia hidráulica daquele manancial. Entretanto, a 01-07-1932, a obra era reiniciada, dando-se a sua inauguração a 07-09-1933, ato esse que contou com a presença de Getúlio Vargas, então presidente da República, José Américo de Almeida e Juarez Távora, entre outras autoridades de destaque no cenário político nacional. Vale salientar que o reinício da obra contou com o empenho de Senhor Alexandre que gozava de grande prestígio junto a José Américo de Almeida, o então ministro da Viação e Obras Púbicas do governo Vargas.
A 04-03-1934, o açude de Pilões sangrava pela primeira vez, enchendo os corações de alegria e de muita esperança. Assim, concretizava-se o grande sonho do Padre Sá e Senhor Alexandre. Durante seus 78 anos de existência, Pilões chegou a secar uma única vez. Isso se deu no ano de 1988.
            Devido à escassez de chuva, a maioria dos mananciais da região secou, e muitas comunidades – tanto urbanas quanto rurais - estão revivendo os velhos tempos da lata d’água na cabeça, sendo abastecida por carros-pipas que não atendem à demanda. Se tivesse sido mantido o projeto original, Pilões poderia ser a solução desse angustiante problema. Daí a necessidade da construção de mais açudes (já que as águas do rio São Francisco vão demorar a chegar), como é o caso do de Cacimba Nova, no município de São João do Rio do Peixe, cujos estudos foram requeridos a 20/04/1932.
Referências:

CARTAXO, Rosilda. Estrada das Boiadas; roteiro para São João do  Peixe. João Pessoa,  Nopigral, 1975.

CARTAXO, Otacílio. Os caminhos geopolíticos da ribeira do rio do Peixe,  Jornal A União, 1964.

ALMEILDA, José Américo de. A Paraíba e seus problemas, 4ª edição, Brasília: Senado Federal, 1994, pp. 396-397-398. 

“AS FONTES DE BREJO DAS FREIRAS”, editado em 1922, pela Editora Nova Era.  
       
                                                                                           


 







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